Em uma entrevista franca ao podcast “Política de Primeira”, o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira abriu o jogo sobre as ameaças de morte que marcaram sua carreira no combate ao crime organizado na fronteira e detalhou as frustrações que enfrentou ao se aventurar na política de Mato Grosso do Sul.

Conhecido por sua atuação implacável em regiões como Ponta Porã, Odilon — que teve sua vida contada em um filme e chegou a ser “homenageado” post-mortem em vida por um erro de pesquisa — expôs a precariedade da segurança pública e da justiça na faixa de fronteira, além de fazer duras críticas ao cenário político nacional.


A Vida na Linha de Fogo: Fuga, Escolta e Emboscadas

Nascido no sertão de Exu, Pernambuco, em 1949, o juiz contou sobre a dura jornada de sua família para fugir da seca e a chegada a Mato Grosso do Sul, em 1953, a bordo de um “pau de arara.” Uma trajetória que o levou a formar-se em Direito e, por escolha, a dedicar 31 anos de sua carreira à faixa de fronteira, um ambiente que ele classificou como tendo uma “quinta instância,” a instância da bala.

Durante seu período de atuação, Odilon teve que se proteger de inúmeras ameaças, sobrevivendo a tentativas de emboscada. Ele relembrou um ataque em um hotel do Exército em Ponta Porã, que resultou em troca de tiros, e uma tentativa de invasão em outro hotel, que o forçou a morar no fórum por cerca de quatro meses. “Eu só escapei por causa da Polícia Federal e do Exército,” afirmou.

Sua escolta policial, mantida 24 horas por dia desde 1998, foi retirada em 2019 após sua aposentadoria, já que, no Brasil, “não existe nenhuma lei […] que dá proteção a quem enfrenta” o crime organizado.


Fronteira Abandonada e Justiça Falha

O magistrado aposentado teceu críticas contundentes à forma como o Brasil lida com a criminalidade na fronteira, dominada por facções.

Para Odilon, o combate é ineficaz: “O Brasil ele começa a combater o crime de cima, é o contrário.” Ele defendeu um modelo que priorize a prevenção e a cooperação internacional com países como Paraguai, Bolívia e Colômbia. O juiz estima que, atualmente, a apreensão de drogas na fronteira corresponde a apenas 20% do total que entra no país, e destacou o custo-benefício de erradicar as plantações na origem em vez de focar apenas na repressão.

No âmbito da Justiça, ele apontou a falta de estrutura nas varas de fronteira e a necessidade de uma “mudança radical” na mentalidade do judiciário. “O juiz tem que sair do seu gabinete e conversar com o povo,” afirmou, defendendo que magistrados dediquem parte do tempo a orientar a sociedade para reduzir o número de ações judiciais.

O juiz também expressou preocupação com a credibilidade da Justiça, citando investigações como a venda de sentenças em Mato Grosso do Sul, e cobrou uma atuação mais rigorosa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).


A Decepção na Arena Política

Após deixar a magistratura, Odilon se lançou na política, mas encontrou um ambiente de disputas e traições. Candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul em 2018, ele foi para o segundo turno, mas se sentiu desprezado e sem recursos pelo seu partido (PDT).

“O desprezo mesmo foi no segundo turno das eleições […] o partido me deu um tostão, me desprezou completamente,” afirmou. Ele acredita que o objetivo era fazê-lo perder.

A frustração se repetiu em 2022, na disputa pelo Senado, quando ele se sentiu traído pelo PSD, que lançou outro nome da família dos dirigentes partidários. Diante das decepções, Odilon de Oliveira hoje garante que não tem planos de retornar à vida pública, dedicando-se à advocacia.


Críticas ao STF e a Anistia do 8 de Janeiro

Questionado sobre a polarização política e o papel do Supremo Tribunal Federal (STF), o juiz aposentado descreveu o Brasil como um “Fla-Flu” agressivo.

Sobre os episódios de 8 de janeiro, Odilon questionou a competência do STF para o julgamento, argumentando que os crimes políticos deveriam ser julgados pela Justiça Federal de primeira instância. Fez, ainda, críticas ao relator, que não poderia participar do processo por ter sido citado como vítima de planos de homicídio, configurando “dois vícios bem clássicos.”

Apesar das ressalvas, Odilon acredita que a anistia para os crimes de natureza política, futuramente, é a “melhor solução” para amenizar o extremismo no país.

Qual a sua opinião sobre a necessidade de maior cooperação internacional para combater o crime na fronteira?

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