A piora da inflação e a deterioração das expectativas desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março, não alteraram a perspectiva de uma nova alta de 1 ponto porcentual da Selic. O cenário, no entanto, deve levar o Banco Central (BC) a retirar a sinalização de fim do ciclo de aperto monetário em maio, com juros a 12,75%, segundo economistas consultados pelo Estadão/Broadcast. A mediana do mercado indica Selic terminal de 13,25%, mas as estimativas vêm subindo – o banco Credit Suisse, por exemplo, já fala em Selic a 14%.
Após o encontro mais recente do colegiado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, do mês registrou uma alta de 1,62% em março, a maior para o mês desde 1994, 0,27 ponto porcentual acima da mediana do mercado. No último dado oficial de inflação antes do Copom de maio, o IPCA-15 teve alta de 1,73%, maior variação mensal desde fevereiro de 2003 (2,19%), com taxa de 12,03% no acumulado em 12 meses.
O economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, espera que o BC cumpra em maio a sinalização da reunião anterior e eleve a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75%. Mas, diante da surpresa com o IPCA de março e do aumento das projeções de inflação no relatório Focus, sobretudo para os horizontes mais longos, o analista afirma que a autoridade monetária deve se ver impedida de encerrar o ciclo e pode deixar as portas abertas para um novo ajuste em junho.
“Desta vez, como o BC tinha sinalizado que iria parar e existe muita incerteza, é o momento em que é preciso comprar alguns graus de liberdade, porque o cenário está arriscado pela alta das expectativas. Se o BC perder essas expectativas de médio prazo, é difícil retomar depois”, diz Megale. Desde a última reunião do comitê, o Focus registrou aumentos das projeções de inflação para 2022 (6,45% para 7,65%), 2023 (3,70% para 4,0%) e até 2024 (3,15% para 3,20%).
O cenário da XP Investimentos leva em conta um novo aperto de 1 ponto porcentual em junho, com Selic terminal de 13,75%. Para Megale, juros neste nível permitiram ao BC manter o IPCA em 4,0%, dentro das bandas da meta em 2023, e promover uma convergência da inflação ao centro do alvo em 2024. “Acho que tem um choque de custos muito forte para o BC querer trazer tão rapidamente a inflação para o centro da meta em um ano e meio. É legítimo estender um pouco o horizonte de convergência”, afirma.
O economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, diz que o BC deve retirar a menção a dois cenários possíveis para o preço do petróleo, e adotar o quadro “alternativo” do último comunicado como o de referência. Após a alta de 1 ponto porcentual prevista para maio, Serrano prevê um aperto final de 0,5 ponto na Selic em junho, para 13,25%, com inflação de 7,60% em 2022 e de 3,5% em 2023.
“Tenho dúvida se o BC vai sinalizar um aumento de 0,50 ponto na reunião seguinte ou apenas um novo ajuste de menor magnitude, sem especificar. Como estamos perto do fim do ciclo, pode não ser ruim deixar a porta aberta”, afirma o economista, que projeta Selic de 9,0% no fim de 2023.
Para o economista-chefe da Santander Asset, Eduardo Jarra, o Copom chega à reunião de maio pressionado por um quadro de inflação mais deteriorado do que o do encontro anterior. O analista considera um “ponto pacífico” no mercado a decisão da semana que vem, com um aumento de 1 ponto porcentual dos juros, mas observa que o tom da comunicação adotada pelo BC pode fazer a diferença em termos do grau de desancoragem das expectativas à frente.
Estadão*