Pesquisa revela alta concentração de agrotóxicos e metais em moradores de MS

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Plantação de algodão em Costa Rica (MS) — Foto: Globo Repórter
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Profissionais da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB) estudaram moradores que viviam na mesma região que antas contaminadas pelos químicos. Dos 94 moradores analisados, 36 pessoas testaram positivo para um ou mais tipos de agrotóxicos.

Pesquisadores descobriram que uma parcela de moradores de Mato Grosso do Sul pode estar contaminada com agrotóxicos utilizados em plantações de monoculturas, como de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão. E a descoberta só foi possível graças às antas.

O estudo realizado pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB), projeto do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), coletou amostras biológicas de moradores de Mato Grosso do Sul em 2023, para detectar a presença de agroquímicos e metais, especificamente dos moradores de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina.

Segundo o instituto, a anta é uma espécie sentinela, ou seja, pode ser utilizada para detectar riscos ou perigos a elas mesmas e em outras espécies, incluindo seres humanos. Por isso, a presença das substâncias nos organismos delas levantou alerta. Confira:

✍🏻 A pesquisa: para realizar a pesquisa, a INCAB-IPÊ obteve a licença nº5.576.386, do Comitê de Ética da Plataforma Brasil. Ao todo, 94 moradores dos municípios de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina fizeram parte do estudo e enviaram amostras para serem analisadas.

📊 O resultado: os pesquisadores detectaram cinco agroquímicos durante a pesquisa, sendo dois Organofosforados (Glifosato e Malathion) e três Organoclorados (pp’DDD, Dieldrin e Beta-BHC). Do total, 36 pessoas testaram positivo para algum tipo de agrotóxico, sendo que, em alguns casos, há mais de um químico presente.

Casos positivos para glifosato. — Foto: Reprodução/INCAB-IPÊ

Casos positivos para glifosato. — Foto: Reprodução/INCAB-IPÊ

🧪 Glifosato: dos 94 participantes, 78 foram testados para o glifosato em amostra de urina. Este é o herbicida mais utilizado no Brasil e possui potencial cancerígeno, segundo estudos. O glifosato se mostrou presente em 25 pessoas.

“O organismo humano é capaz de metabolizar e eliminar diversas substâncias, entretanto as moléculas de vários agrotóxicos podem se depositar no corpo e causar danos aos órgãos e tecidos, como fígado, rins, pele e sistema nervoso. A depender da dose no corpo, pode levar inclusive à morte”, explicou o médico e doutor em doenças infecciosas, Maurício Pompílio.

🔎 Antas: Os resultados obtidos em humanos já haviam sido premeditados pelas antas, animais sentinelas, a partir de pesquisas realizadas pelo INCAB-IPÊ entre 2015 e 2018. A partir de amostras frescas coletadas em carcaças de animais pelos pesquisadores, principalmente os que haviam sido atropelados em rodovias de Mato Grosso do Sul, foi possível detectar 13 compostos químicos diferentes, incluindo nove pesticidas e quatro metais.

O estudo gerou um relatório técnico e um artigo científico que foi publicado na revista científica internacional Wildlife Research, em 2021. A pesquisadora Patrícia Medici explicou que os compostos químicos estudados são usados principalmente em áreas dedicadas à agricultura e pecuária – particularmente as grandes monoculturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão.

Amostras que positivaram para glifosato foram comparadas com resultados de outros países. — Foto: Reprodução/INCAB-IPÊ

Amostras que positivaram para glifosato foram comparadas com resultados de outros países. — Foto: Reprodução/INCAB-IPÊ

“Começamos a pensar que, sendo as antas sentinelas e nos mostrando quais são os compostos presentes no ambiente, as comunidades humanas nessas regiões estariam também expostas a esses químicos. A gente espera que, com esse conjunto mais amplo de resultados, seja possível iniciar uma conversa com os órgãos governamentais, os laboratórios, as empresas do agronegócio que estão envolvidas com essa cadeia de utilização dos agrotóxicos em nosso país”, ressaltou Patrícia.

👨🏻‍⚕️ Deu positivo! O que fazer? O Dr. Maurício Pompílio explica que, com os resultados obtidos na pesquisa com humanos, há medidas individuais e coletivas que devem ser tomadas. “No aspecto individual, identificar se seus exames estão normais ou alterados e, em caso de alterações, procurar ajuda para avaliar melhor seu estado de saúde. No aspecto coletivo, sensibilizar todos os trabalhadores rurais para a necessidade do uso dos equipamentos de proteção individual durante o manejo do solo e defensivos agrícolas”, ressaltou.

Fonte:G1

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