Painel que conta história da fronteira está exposto no Hotel Barcelona, no centro da cidade.
A população fronteiriça e, em especial, os hóspedes do Hotel Barcelona, passam a ter, a partir desta sexta-feira, sete de junho, acesso a uma obra que retrata a rica histórica da região: o Painel “A Evolução da Erva-mate na Fronteira”, Levantamento Histórico Cultural, do artista paraguaio Anicio Vera.
A obra foi feita no estacionamento do Hotel Barcelona, o maior da cidade. Ela foi revitalizada pelo próprio artista, graças aos recursos da Lei Paulo Gustavo. Sua revitalização foi possível por conta da contemplação do projeto de autoria de Giovanna Hernandez Moreira.
Fruto do idealismo e amor da proprietária do Hotel Barcelona, a saudosa Iracema Peralta Hernandez, o painel retrata o início da formação das cidades de Ponta Porã, Brasil e Pedro Juan Caballero, Paraguai.
O painel “A Evolução da erva-mate na fronteira” foi construído no ano de 2005 pelo artista Anicio Vera. Neste trabalho feito em cimento misturado á areia paraná, o artista reproduz um trecho importantíssimo da História de Ponta Porã.
A primeira parte do painel retrata o surgimento das cidades de Punta Porã (Paraguai) e Ponta Porã (Brasil), em torno da Laguna Punta Porá. Trata-se da Paraje Punta Porá. Nele o artista reproduz o amanhecer do viajante que utiliza as margens da lagoa para descansar e e refazer do cansaço no trajeto Concepción ao interior dos ervais nativos nas terras do hoje Mato Grosso do Sul.
Ele acorda, levanta-se e vai tomar o mate quente. Ao fundo da chaleira no fogo, o sol nascente.
A segunda parte do Painel retrata um dos costumes mais emblemáticos do povo fronteiriço: a roda de tereré. Nela ocorre a integração das pessoas, o compartilhamento de experiencias, conhecimentos, manifestações culturais.
No terceiro trecho há destaque para a comida e também ao meio de transporte do período final do século 19 até meados do século 20: o cavalo e a carreta puxada por juntas de bois.
O quarto trecho do Painel reproduz um dos personagens mais atuantes no processo de extração da erva-mate: o ervateiro. Também conhecido por “Mensú” e “Mineiro”. A descrição feita por Anicio é rica em detalhes, ressaltando as vestimentas do personagem que dormia debaixo ou dentro da carreta, símbolo do progresso no período.
As paradas eram necessárias pois a região era inóspita. Quase não havia estradas e, os caminhos, eram muito acidentados. Uma caravana que fazia o trajeto entre o Porto de Concepción (cerca de 220 quilômetros de distância de Ponta Porã/Pedro Juan Caballero) até os ervais da região, durava em média três meses.
Eles levavam a erva-mate para o Porto onde a mercadoria era embarcada em navios com destino a Buenos Aires, capital da Argentina.
No trajeto de volta, traziam gêneros de primeira necessidade dos habitantes dos ervais e dos poucos núcleos urbanos: sal, alimentos, remédios, ferramentas, etc.
Neste trecho do Painel também é destacada a presença de animais (vacas) utilizados no abate para consumo dos viajantes.
Um detalhe: o artista destaca nestas partes uma faixa simbolizando as curvas dos caminhos. Um dos mais conhecidos era a “Picada de Chiriguelo”.
No sétimo trecho está reproduzido um dos equipamentos mais importantes para o processo de industrialização da erva-mate: os barbacuás antigos. Eles eram utilizados para sapecar a erva, iniciando o processo de desidratação do produto, visando garantir sua qualidade até o momento em que seria transportado.
No final do Painel estão destacadas algumas construções antigas da cidade: o Castelinho, os marcos da fronteira, as primeiras casas construídas, a estação ferroviária de Ponta Porã inaugurada em 19 de abril de 1953, o trem de ferro, principal meio de transporte da população fronteiriça, interligando a fronteira aos grandes centros urbanos do sudeste brasileiro.
O trem recebe uma menção especial porque faz parte da memória afetiva do autor deste trabalho. “Cresci ouvindo o barulho do trem, diariamente. Na minha infância, pude acompanhar o comportamento da população fronteiriça. Em alguns horários a ferrovia era marcante: ao meio dia soava o apito que avisava o horário. As cinco da tarde era o apito do trem, chegando de Campo Grande, concluindo a viagem.
O Painel é concluído com o destaque às bandeiras da Espanha, Brasil e Paraguai. A Espanha por ser o país de origem do fundador do Hotel Barcelona e de outras empresas estabelecidas na fronteira: Juan Hernandez.
Aqui na fronteira, Juan Hernandez e Iracema Peralta, foram grandes empreendedores. Entre os negócios está o Hotel Barcelona, o maior de Ponta Porã, inaugurado em 1966, que abriga este trabalho especial do artista Anicio Vera.
O Mural “A Evolução da Erva-mate na Fronteira” possui cerca de 60 metros de comprimento e 2 metros e 20 centímetros de altura.
No estilo monocromático, característica do autor, foi feito com areia paraná, cimento cru. “Primeiro eu fiz um desenho na parede com lápis e pincel. Depois fui chapiscando o cimento e, com a mão e um estilete, fui dando forma a este material. Com muito cuidado para não perder o ponto de secagem do cimento”.
QUEM É ANÍCIO VERA?
Anicio Vera Carneiro: Data de nascimento: 31 de Diciembre de 1962. Lugar de nascimento: Pedro Juan Caballero. Nacionalidade: Paraguaia.
Cursou entre os anos de 1982 e 1986, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul no Instituto de Belas Artes, em Porto Alegre (BR), por meio do Convenio Paraguay – Brasil. Obtece o título de Bacharel en Belas Artes, com habilitação de Pintura, Escultura e Desenha – Mosaico.
Ganhador de varios prêmios pelo mundo, tem trabalhos expostos e comercializados em países como Brasil, Japão, estados Unidos, Argentina, Uruguai, entre outros.
Texto: Nivalcir Almeida
Fotos: www.camisa12.com.py