Brasileira que caiu em vulcão na Indonésia é encontrada morta

Equipes de resgate encontraram nesta terça-feira (24/6) o corpo da publicitária brasileira Juliana Marins, de 26 anos, após quatro dias de buscas no monte Rejani.

Juliana sofreu um acidente na última sexta-feira (20/6) enquanto fazia uma trilha no monte Rinjani, um vulcão na Indonésia conhecido por suas vistas deslumbrantes e também por seu terreno traiçoeiro, onde ao menos outras cinco pessoas morreram nos últimos cinco anos.

A brasileira participava de um passeio de três dias quando caiu em uma área de difícil acesso da montanha.

Desde então, várias tentativas de resgate foram realizadas, mas o terreno íngreme, a grande altitude e o mau tempo impediram o sucesso das operações.Na última tentativa, as equipes concentraram os esforços no avanço direto até o ponto onde Juliana havia sido localizada, utilizando técnicas de resgate vertical, apesar dos grandes desafios impostos pelo terreno rochoso e pelas condições climáticas adversas.

Um grupo de sete socorristas conseguiu se aproximar do local, mas, com o cair da noite, precisou montar um flying camp (acampamento provisório montado no próprio local da operação para pernoite e segurança da equipe).

As operações contaram com 48 profissionais de diversas forças e foram acompanhadas por representantes do governo indonésio e da Embaixada do Brasil.

A morte da jovem foi confirmada pelo perfil oficial criado pela família no Instagram, o @resgatejulianamarins.

“Hoje, a equipe de resgate conseguiu chegar até o local onde Juliana Marins estava. Com imensa tristeza, informamos que ela não resistiu. Seguimos muito gratos por todas as orações, mensagens de carinho e apoio que temos recebido.”

 Juliana Marins
Legenda da foto,Juliana Marins durante sua viagem para a Ásia

Juliana era descrita por amigos como uma viajante determinada, que vinha explorando países do Sudeste Asiático como Tailândia, Filipinas, Vietnã e Indonésia. Segundo relatos da imprensa local e familiares, Juliana teria sido deixada para trás pelo guia Ali Musthofa após manifestar cansaço.

Mas, em entrevista ao jornal O Globo, Musthofa negou ter abandonado a brasileira antes do acidente. Ele afirmou ter sugerido que ela descansasse enquanto ele seguiria um pouco adiante, como já havia sido relatado pela imprensa local.

Segundo ele, o combinado era reencontrá-la um pouco mais à frente na trilha. O guia prestou depoimento à polícia no domingo, após descer da montanha.

Os familiares da brasileira criticaram o fato de o parque permanecer aberto, permitindo a circulação de turistas na mesma trilha enquanto Juliana ainda aguardava resgate.

“Enquanto Juliana PRECISA DE SOCORRO! Não sabemos o estado de saúde dela! Ela continua sem água, comida e agasalho há três dias!”, afirmaram no Instagram.

Após o corpo da brasileira ser encontrado, autoridades da Província de Nusa Tenggara Barat, na Indonésia, anunciaram o fechamento temporário da trilha que leva ao cume do Monte Rinjani.

A nota diz que a decisão foi tomada para acelerar a evacuação da vítima do acidente e garantir a segurança de visitantes e equipes de resgate. Ainda não há previsão para a reabertura do acesso.

Segundo o chefe da agência nacional de resgate, Mohammad Syafii, a operação final de retirada será feita por içamento vertical e transporte por trilha até o posto de Sembalun, de onde o corpo será levado de helicóptero ao Hospital Bhayangkara, em Mataram, informou o serviço da BBC na Indonésia.

A BBC News entrou em contato com a família de Juliana e com a administração do Parque do Monte Rinjani para comentários.

Mapa mostra Monte Rinjani onde a turista brasileira Juliana Marins se acidentou

Reações e indignação nas redes sociais

Em nota, o governo brasileiro enviou condolências aos familiares e amigos de Juliana Marins.

“Ao final de quatro dias de trabalho, dificultado pelas condições meteorológicas, de solo e de visibilidade adversas na região, equipes da Agência de Busca e Salvamento da Indonésia encontraram o corpo da turista brasileira”, informou o Ministério das Relações Exteriores.

A pasta acrescentou que “a embaixada do Brasil em Jacarta mobilizou as autoridades locais, no mais alto nível, para a tarefa de resgate e vinha acompanhando os trabalhos de busca desde a noite de sexta-feira, quando foi informada da queda no Monte Rinjani”.

No Instagram, a primeira-dama Janja da Silva lamentou a morte da turista brasileira e prestou solidariedade à família.

“Quando uma mulher tão jovem, de espírito livre e sorriso largo, como Juliana, nos deixa, fica toda a tristeza de momentos não vividos. Mas também reverbera em nós a inspiração por toda a força e coragem que ela teve de realizar seus sonhos e viver com entusiasmo”, escreveu Janja.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também fez uma publicação. “À irmã Mariana, aos pais, familiares e amigos, meus sinceros sentimentos de amor e compaixão nesse momento de dor profunda.”

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse ter recebido com tristeza a notícia da morte da carioca. “Com apenas 26 anos, deixará um vazio imenso em quem a conhecia e admirava”, afirmou.

O ator e comediante Yuri Marçal, que conhecia Juliana e mobilizou campanha nas redes sociais em prol do resgate, prestou homenagem à colega:

“Uma honra ter trabalhado com você por esses anos e poder conhecer uma pessoa incrível, generosa, bem-humorada e feliz! Agradeço muito aos deuses pelo privilégio de ter dividido o caminho com você. Que sua luz siga viva na memória de todos que tiveram a sorte de te conhecer.”

O influenciador Felipe Neto também comentou o caso: “Muito triste (e também revoltante) tudo o que aconteceu no caso que tirou a vida de Juliana Marins”.

Já a atriz Tatá Werneck classificou como “um descaso absurdo” a permissão para uma trilha considerada perigosa, onde “é impossível realizar um resgate”.

“E mais uma vez fake news atrapalharam o processo, porque inventaram que estavam resgatando Juliana e que já haviam fornecido mantimentos, o que atrasou ainda mais a operação. Sinto muito. Que recebam todo o amor, carinho, força e conforto possíveis neste momento”, escreveu.

Assim como a atriz, muitos usuários manifestaram indignação nas redes sociais diante da demora no resgate.

“Impossível não se REVOLTAR com o que o governo da Indonésia fez com a Juliana Marins. Quase TRÊS dias sem ÁGUA, sem ALIMENTO. Trataram a vida da brasileira com um descaso que jamais ocorreria no Brasil”, publicou um usuário do X (antigo Twitter).

Outros falaram sobre a sensação de impotência diante da tragédia. “A falta de mobilização imediata do governo da Indonésia para iniciar o resgate foi um dos principais agravantes. Juliana estava viva. Estava a menos de 400 metros de distância”, diz uma página da rede social.

“Juliana Marins não morreu na queda. Ela morreu pelo descaso. Morreu esperando um resgate, enquanto o governo da Indonésia sequer demonstrou preocupação. Drones sobrevoavam o local, mas nenhum levou comida ou água. Ela morreu por negligência e abandono”, escreveu outro internauta.

Subida ‘muito dura’

O monte Rinjani, com mais de 3,7 mil metros de altura, é o segundo maior vulcão da Indonésia e um dos destinos mais procurados por turistas de aventura.

Em 2022, um português morreu ao cair de um penhasco no cume do vulcão. Em maio deste ano, um malaio também morreu após uma queda durante a escalada.

Em entrevista à TV Globo, dois integrantes do grupo de Juliana relataram que a trilha era difícil.

Um deles descreveu a subida como “muito dura” e disse que “estava muito frio, foi realmente muito difícil”.

Outro contou que, no momento do acidente, Juliana estava na retaguarda do grupo, acompanhada do guia.

“Era bem cedo, antes do amanhecer, com visibilidade ruim, usando só uma lanterna simples para iluminar o caminho, que era difícil e escorregadio”, disse.

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