NA LINHA DO TEMPO: MEMÓRIA HISTÓRICA DA REGIÃO FRONTEIRIÇA E ANÁLISE DA NARRATIVA DO LIVRO ANNAES PONTA-PORENSES EDIÇÃO DE 1865 – 1922 DE PEDRO ANGELO DA ROSA.

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Prof. Me. Yhulds G. P. Bueno

RESUMO. A pesquisa tem como objetivo análise historiográfica e documental com uso de imagens e bibliografias de época para fundamentar os registros existentes e citados no livro ANNAES PONTA-PORENSES EDIÇÃO DE 1865 – 1922 DE PEDRO ANGELO DA ROSA. Serão abordados fatos anteriores e posteriores à formação da Região de Ponta Porã e sobre a criação do 11º RCI Regimento de Cavalaria Independente que posteriormente foi denominado 11º RC Mec. Regimento de Cavalaria Mecanizado. Estes dados apresentam-se especificamente como um ponto de entendimento da necessidade de criação e construção do 11º RC na fronteira.

Figura 1: Imagem do Livro: Annaes Ponta-Porenses edição de 1865 – 1922 de Pedro Angelo da Rosa.

Pedro Angelo da Rosa foi um dos primeiros historiadores e escritores de Ponta Porã no início do século XIX neto de outro personagem histórico desta cidade o Capitão João Antonio da Trindade, ele faz menção do mesmo em seu livro, já na sua dedicatória: “A venerada memoria do meu avô Cap. João Antonio da Trindade, e Coronel Balthazar Saldanha, uma singela homenagem.” Este livro foi publicado no ano de 1922 – Seção de Obras d “O Estado de São Paulo” São Paulo. Destaca-se na capa o Brasão do Estado de Mato Grosso. Este

exemplar se torna uma raridade por seu conteúdo que traça a linha historiográfica da formação da região fronteiriça.

Figura 2: Imagem do Livro: Annaes Ponta-Porenses edição de 1865 – 1922 de Pedro Angelo da Rosa.

Segundo Pedro Angelo da Rosa “1892 neste ano, chegava ao lugar onde hoje se ergue a cidade de Ponta Porã, o Capitão João Antonio da Trindade, natural da cidade do Rio de Janeiro, veterano da Guerra do Paraguai, que, acompanhado da sua família, aqui veio fixar residência”. (ROSA, 1922, p. 12)

Este fato histórico também foi descrito no livro de Elpidio Reis Ponta Porã Polca Churrasco e Chimarrão de 1981. Segundo sua narrativa: “Capitão João Antonio da Trindade herói reconhecido a nível nacional principalmente por ter participado na campanha militar da Retirada da Laguna”. De acordo com o registro do historiador entre outros pesquisadores e escritores da época, existia fixo no local o posto fiscal, um destacamento aduaneiro sob a direção de Emílio Calháo, que tinha a incumbência de arrecadar tributos referentes à exploração de erva mate entre outras mercadorias.

Neste período Rosa (1922) relata que a vinda de se avô João Antonio da Trindade do Rio de Janeiro para a fronteira se dava pelo fato que: “Não se sabia ao certo o lugar onde passaria a linha divisória entre os domínios do Brasil e do Paraguai”. Neste caso pondera-se que o papel do Capitão Trindade seria de manter a marcação original dos marcos na linha de fronteira, já que a mesma foi organizada em 1883 e retificada por ordem do Ministro da Indústria, Viação e de Obras Públicas.

De acordo com as narrativas históricas de Elpidio Reis no livro Ponta Porã Polca Churrasco e Chimarrão de (1981), no ano de 1880 chega à região o senhor Feliciano Ramos Nazareth, um militar que vem com a

missão de comandante e ergue seu acampamento junto à lagoa do Paraguai, onde hoje é a cidade de Pedro Juan Caballero.

Em 1892 chegou a Guarnição da Colônia Militar de Dourados que estava restituída no pós-guerra do Paraguai, com o objetivo de se fixar e proteger novamente a região, nesse mesmo ano Ponta Porã começa a tomar seus primeiros impulsos de progresso econômico, com a chegada de muitos migrantes gaúchos, que vieram com a finalidade de praticar a agropecuária, além da exploração da erva mate ajudando desta maneira a desenvolver e impulsionar o comércio interno da cidade. Com o desenvolvimento e o crescimento impulsionado pelo agronegócio, viu a necessidade de criar um destacamento policial, isso ocorreu em 1897, neste período foi nomeado como Comandante o Senhor Nazareth, após a sua instalação do destacamento policial, Nazareth voltou a o destacamento Militar da Colônia dos Dourados. O autor descreveu que: “No ano de 1897 chega a Ponta Porã o primeiro contingente da policia militar” comandado por Francisco Tupy Serejo natural da cidade do Maranhão veterano da Guerra do Paraguai militar reformado ocupando o posto de Major, ele foi destacado da cidade de Cuiabá juntamente acompanhado de sua família se “estabelecendo permanentemente nesta cidade, para comandar o destacamento policial”. (ROSA, 1922, p. 13)

Analisado os relatos deste período histórico da formação da fronteira no século XIX, a mesma estava protegida pela Colônia Militar dos Dourados que fora reconstruída no pós-guerra da Tríplice Aliança ou Guerra do Paraguai, por meio do militar Feliciano Ramos Nazareth que realizava as patrulhas na região e pelo destacamento policial sob o comando do militar Francisco Tupy Serejo que mantinha a segurança na área urbana da cidade.

Em 1902 segundo relato do historiador foi “organizada a planta da Villa de Ponta Porã, pelo agrimensor Fernando Medeiros”. (ROSA, 1922, p. 14)

Figura 3: Desenho de Antônio Fernando de Medeiros confeccionado em 12 de julho de 1902, publicado no livro de Luiz Alfredo Marques Magalhães, Convivendo na fronteira 2012.

Ao realizar pesquisa desta planta histórica da pequena Vila de Ponta Porã de 1902 observam-se quatro avenidas principais e nove cruzamentos totalizando trinta quadras, os nomes originais das ruas foram mudando conforme os anos, exemplo da Avenida Brasil que neste período se chamava General Costa Marques, Rua Sete de Setembro que anteriormente se chamava Miranda em algumas quadras e Couto Magalhães nas demais, em especial ao final da Rua Miranda em 1902 existia a praça da liberdade neste local se encontra o Prédio do Banco Bradesco entre outras lojas e comércios. Segundo informações contidas no mapa o cemitério se localizava próximo à área que hoje pertence ao quartel do 11º RC MEC, demostrando que o mesmo foi transladado de lugar posteriormente para a instalação de novos blocos do Regimento.

Seguindo a linha historiográfica de Pedro Angelo da Rosa, em 1902 ocorreu a última revolta liderada por Jango Mascarenhas personagem histórico do antigo Mato Grosso, esta revolta revolucionaria separatista entre republicanos e imperialistas teve como ponto de conflitos o sul do grande estado em especial na região de Ponta Porã, foi derrotado em outubro de 1902 segundo fontes historiográficas na Cabeceira-Jaraguari, por tropas chefiadas pelos coronéis Felippe de Brun e Mathias Ferreira Dias e o Major Fermiano. Com o fim desta revolta o Coronel Felippe de Brum que era defensor do governo republicano foi eleito para o cargo de Deputado Estadual se mudando para capital de Cuiabá para exercer o cargo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

No ano de 1906 para reforçar a segurança na fronteira chegou o “destacamento Federal, composto por 80 praças, sob o comando do tenente Izidro”. Já no ano de 1907 formou-se o 17˚ Regimento de Cavalaria Divisionária que neste período histórico estava alocado em Ponta Porã ficou sob o comando do Tenente-

Coronel Carlos Menna Barreto, neste mesmo ano iniciaram-se pelo engenheiro militar o tenente João Candido Pereira de Castro Junior, “obras do quartel Federal inauguradas em 1915”. (ROSA, 1922, P. 15 e 16)

Figura 4: Acervo Albertino Fachin. Foto créditos Albert Braud. Área do 11º RCI Regimento de Cavalaria Independente com estrutura e pavilhões de madeira foto década de 20

Figura 5: Acervo Albertino Fachin. Foto créditos Albert Braud. Área do 11º RCI Regimento de Cavalaria Independente. Observa se na imagem carros antigos Ford modelo T soldados e autoridades na área que seria as futuras instalações e construção dos pavilhões do 11 RCI com estrutura e pavilhões de madeira. Foto década de 20

Figura 6: Acervo Albertino Fachin. Foto créditos Albert Braud. Área do 11º RCI Regimento de Cavalaria Independente, área localizada na Avenida Brasil onde se localiza o CIMPORÃ Clube de Oficiais e a extensão do Buracão (erosão) Foto década de 20

Revoltas sempre marcaram a formação do Grande Mato Grosso no pós-guerra da Tríplice Aliança no final do Império do Brasil e início da República. Segundo narrativa de Rosa (1922) em 1906 deu-se início a revolução de Bento Xavier residente na fazenda Bela Vista situada na região de Ponta Porã, Bento e seus homens percorreram a região de fronteira defendendo ações revolucionárias conta o governo foi duramente perseguido por vários anos sempre buscando refugio do lado paraguaio, mas em 1˚ de junho do ano de 1911após invadir a fronteira de Bela Vista divisa com Paraguai  ocorreu um grande conflito com tropas brasileiras forçando Bento recuar seguindo marcha para Ponta Porã, em novo conflito na região de Boa Vista com as tropas do Major Bento Mattos, conseguiu seguir sua marcha para Colônia Militar dos Dourados gerando outro combate coma as tropas do Major Gomes que forçou Bento Xavier mudar a direção, foram seguidos pela tropa do Major Gomes que no embate final na linha divisória na região da Estrela as tropas de Gomes derrotaram Bento Xavier que “imigrou definitivamente par República do Paraguai e cessaram os seus movimentos revolucionários que periodicamente surgiram no sul de Mato Grosso”. (ROSA, 1922, p. 16 e 17)

Na madrugada do dia 6 de maio de 1912 o Capitão Antonio Netto de Azambuja destacado recentemente de Bella Vista da inicio a uma revolta nas dependências do 17˚ Regimento,  se estendendo a para fora dos muros, “ logo ao clarear desse dia foram presas as autoridades civis, entre as quais o Coronel Balthasar Saldanha, Marcos Fioravanti e outras” e citado pelo autor que o Comandante do 17˚ Regimento Capitão Alfredo Pereira de Carvalho e os senhores  Álvaro Brandão e Pedro Canuto da Costa  conseguiram escapar dos revoltosos. O Coronel Balthasar Saldanha foi conduzido pela tropa e os demais prisioneiros forma soltos, ao deixar o quartel os revoltosos levaram suprimentos e munições levantaram acampamento na região denominada Sepy-cuê, a intenção era marchar para Amambai se unindo a outros para seguir a Bela Vista em apoio a Bento Xavier combatendo as tropas do Major Gomes.

O comandante de Regimento Capitão Alfredo Pereira de Carvalho juntamente com os tenentes Armindo de Almeida Rego, Antonio de Lacerda Gama e Alvaro Antunes da Cruz com apoio dos sargentos Cicero Mangini, Manoel Maiolino Brum, Cicero de Oliveira Mendobi e Jose Cavalcante da Silva Brabo o grupo se reuniu na casa do Tenente Castro formaram uma frente de combate contra os revoltosos, evitando o que seria a retomada de conflitos no sul do Estado por Bento Xavier.

No dia 9 de as 4 h segue um contingente comandado pelo Capitão Carvalho e o Tenente Castro as 6 h inicia o confronto atacando o acampamento dos revoltosos este ataque teve o apoio da força de cavalaria sob as ordens de José Manvailler o Coronel Saldanha foi resgatado e a vitória foi a custa de mortos muitos feridos ao final do conflito os revoltoso estes conduzidos ao detidos. “E foi assim, abafado em seu inicio, o movimento revolucionário que aqui nascia evitando consequência mais graves”. (ROSA, p. 19 e 20)

A preocupação com a segurança e essencial para manter a ordem dentro dos limites territoriais, podendo se afirmar que a construção do 11º RC MEC foi de suma importância por ser esta unidade militar o guardião sempre a postos para defender região fronteiriça de qualquer revolta ou invasão.

Figura 7: Imagem do decreto de criação do11˚RC I publicada na p. 16 no livro do Centenário – Regimento Marechal Dutra ed. 20

No ano de 1919 é criado em Ponta Porã o Regimento de Cavalaria Independente sob o Decreto 13.916 de 11 de dezembro sancionado pelo Presidente Epitácio Pessoa que tem como finalidade de proteger a fronteira oeste do Brasil, após a criação do 11˚RC I o 17˚ Regimento que estava alocado em Ponta Porã migrou definitivamente para Amambai. Desde sua criação o 11˚RC  esta deixando sua marca na formação histórica da fronteira e do Brasil, podendo serem citados:

1921 – Início da construção e ampliação dos novos pavilhões;

1924 – Duas missões o 11˚RC I, a primeira missão foi a perseguição aos revoltosos que vinham de São Paulo para fronteira de Três Lagoas. Segunda missão era de marchar para região de Entre Rios com finalidade de guarnecer a linha de Entre rios e Porto Alegre.

1930 – Nomeação do Tenente Coronel Eurico Gaspar Dutra como Comandante do Regimento;

1925 – Combate aos revoltosos da Coluna Prestes que se encontravam na região de Mato Grosso.

1938 – Getúlio Vargas primeiro presidente a visitar a região fronteiriça de Ponta Porã;

1944 – Envio de tropas do 11˚ RC para FEB – Força Expedicionária Brasileira dois soldados do Regimento tombaram em combate na segunda guerra: SD Sebastião Ribeiro e SD Tomás Machado;

1949 Visita do General Plinio Pitsaluga que foi Comandante da FEB durante a Segunda Guerra-Mundial;

1963 – Visita do primeiro comandante do regimento General Hipólito

1974 – Queda da aeronave Búfalo 2366 na área militar do 11˚ RC (atualmente Parque dos Ervais);

1991 – Denominação histórica de Regimento Marechal Dutra em homenagem ao seu antigo comandante que posteriormente foi Presidente do Brasil.

1985 – Viaturas blindadas chegam ao regimento e ocorre a mudança do nome para 11˚ Regimento de Cavalaria Mecanizado;

2006 – Envio de tropas do 11˚ RC Mec. Para Missão de Paz no Haiti.

2019 – Centenário do 11˚ RC Mec. Destacando-se como uma unidade de cavalaria mecanizada, moderna, operacional de fronteira

Pedro Angelo da Rosa para elaborar seu livro de 67 páginas publicado em 1922 obteve ajuda de Maximiliano Maciel Secretário da Intendência Municipal e Affonso de Miranda Kramer Tabelião do 1˚ Oficio, que repassaram documentos arquivos utilizados pelo autor Análise através de relatos de historiadores, escritores que por meio de suas fontes e registros bibliográficos de uma região nos permite perpetuar sua memória através da história, narrada por eles sobre outros personagens que passaram e permaneceram nesta região, desta forma podemos valorizar culturalmente todos aqueles que direta ou indiretamente sempre contribuíram e ainda hoje contribuem para segurança e desenvolvimento e crescimento desta região fronteiriça.

FONTES DE PESQUISA SECUNDÁRIAS:

BIASOTTO, Wilson Valentim. Prá quem fica a seriema? O progresso,
Dourados, 10 de maio, de 1999, p. 02.

BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: do Estado sonhado ao Estado
construído (1892-1997). 2v. 2010, (fotos)

BITTAR, Marisa. Mato Grosso do Sul: do Estado sonhado ao Estado
construído (1892-1997). 2v. Tese (Doutorado em História) – FFLCH/USP,
São Paulo.

CRUZ. Sergio Manoel da. Data e Fatos Históricos do Sul de mato Grosso ao Estado do Pantanal. Campo Grande, MS. Pantaneira, 2004.

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FREIRE. João Portela. Terra, Gente e Fronteira. Ponta Porã, MS. Borba, 1999.

GUIMARÃES, Acyr Vaz. Mato Grosso do Sul, sua evolução histórica. Campo Grande, MS: Editora UCDB, 1999.

GUIMARÃES, Acyr Vaz. Mato Grosso do Sul: História dos Municípios. Campo Grande: IHG/MS, 1992, Volume 1 Rio Brilhante, Maracaju, Ponta Porá, Antônio João, Bela Vista, Jardim, Guia Lopes e Nioaque.

LIMA, Astúrio Monteiro de. Mato Grosso de outros tempos / pioneiros e heróis. 2 Ed. São Paulo. Editora Soma. 1985.

LIMA, Manuel de Oliveira. O Império brasileiro. São Paulo: USP, 1989

MAGALHÃES. Ramão Ney. Um Século de Historias. Ponta Porã, MS. Proarte Signs, 2013.

MENDES, R. Teixeira. A Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro: Edição de Joaquim Bagueira Leal, 1920

QUINTAS. José Manoel Richard. Ponta Porã em foco. Ponta Porã, MS. Borba, 2° ed, 2012.

REIS. Elpídio. Ponta Porã Polca Churrasco e Chimarrão. Rio de Janeiro, RJ. Rio. 1989.

RODRIGUES, José Barbosa. História de Mato do Grosso do Sul. São Paulo:
Editora do Escritor, 1985.

ANNAES PONTA-PORENSES EDIÇÃO DE 1865 – 1922 DE PEDRO ANGELO DA ROSA. Seção de Obras d “O Estado de São Paulo” São Paulo – 1922.

ROSSI. Marco. Ponta Porã 100 anos. Campo Grande, MS. Horizonte Verde, 2012.

VERSEN, Max von. História da Guerra do Paraguai. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976.

Pesquisador: Prof. Me. Yhulds Giovani Pereira Bueno. Mestre: Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos UEMS – Pós Graduado: Ensino em História e Geografia. UNIVALE – Pós Graduado: Ensino da História UNIBF – Pós Graduado Docência em Biblioteconomia UNIBF.

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