As ex-funcionárias da pecuarista Andreia Aquino Flores, de 38 anos, acusadas da morte dela, vão continuar presas e devem ser transferidas para o presídio. Elas passaram por audiência de custódia na manhã deste sábado (30) e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva pelo assassinato de pecuarista.
Durante a audiência, as duas declararam que teriam sido vítimas de tortura e maus tratos durante a prisão em flagrante, relatando terem supostamente apanhado. Entretanto, elas não identificaram qual policial teria feito isso. As defesas pediram pela aplicação de medidas cautelares diversas.
O juiz Aluísio Pereira dos Santos considerou que o crime foi “praticado com emprego de grave ameaça”, além de ausência de comprovação de trabalho lícito e residência fixa de mãe e filha, o que o fez excluir a possibilidade de concessão de liberdade provisória. Além disso, o juiz alegou “garantia da ordem pública” para que elas continuassem presas.
A defesa da filha, feita pelo advogado Raphael Augusto, disse ao Jornal Midiamax que o juiz plantonista não concedeu qualquer medida alternativa de pena. “A investigação ainda está em curso, mas a participação da minha cliente nesse delito será esclarecida ao longo do processo. A denúncia [ao Ministério Público] ainda não será oferecida porque até então o inquérito [policial] não foi finalizado”, alegou.
As duas serão encaminhadas para o Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) e posteriormente para o Centro de Triagem, da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), onde aguardarão vaga no presídio. O Jornal Midiamax tentou contato com a defesa da outra acusada, a mãe, mas não obteve retorno.
Defesa pediu liberdade
A defesa da filha chegou a fazer um pedido de liberdade provisória, na quinta-feira (28), alegando que a mulher de 24 anos não praticou a asfixia, que ela pediu para que o cunhado – suspeito de envolvimento no crime – parasse com as agressões “pois mataria Andreia se continuasse”, e que ela teria “sofrido tortura física e psicológica” pelos policiais durante interrogatório na Derf (Delegacia Especializada em Roubos e Furtos).
Além disso, por meio de seu advogado, a filha retratou parte do depoimento prestado, alegando que ela foi “coagida pelo suspeito” que ainda está foragido, seu cunhado. A defesa também alegou que a acusada não reside em Ponta Porã, mas sim que possui residência fixa em Campo Grande, onde estaria morando com seu convivente e as duas filhas, de 3 e 6 anos.
Por fim, a defesa alegou que a filha possui “conduta social ilibada, não havendo antecedentes criminais contra ela”. O pedido de liberdade provisória também sugeriu aplicação de medidas cautelares, como monitoração eletrônica, para que a mulher de 24 anos respondesse o processo em liberdade, mas não foi acatado.
Suposta participação da irmã
A morte pode ter uma das irmãs da vítima como cúmplice. Depoimentos das funcionárias da vítima – mãe e filha – que estão presas pelo latrocínio, confirmam participação da irmã da pecuarista no crime. Andreia foi morta por esganadura e asfixia no condomínio em que morava, na Chácara Cachoeira, no início da tarde de quinta-feira (28).
Nos relatos, a informação repassada aos policiais da Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos) é de que a irmã de Andreia manteve contato com a funcionária envolvida no assassinato. A mulher é apontada ainda como amante de Andreia e chegou a relatar que recebia muita ajuda financeira da vítima para sanar as dívidas que tinha.
A funcionária chegou a trabalhar por 7 anos com a família de Andreia. A participação da irmã no assassinato teria acontecido após ela pedir ajuda para a funcionária da vítima, para que documentos de quitação de uma dívida fossem assinados. A dívida seria da venda de 400 cabeças de gado, em valor aproximado de R$ 8 milhões.
Conforme relatado pelas autoras do crime, a intenção da irmã de Andreia era de ‘dar um susto’ na vítima, mas não de assassiná-la. A irmã ainda teria dito para a funcionária que Andreia tinha problemas com bebidas e que ela deveria se aproveitar de um momento de vulnerabilidade para fazer com que a pecuarista assinasse os documentos. Para isso, ela receberia R$ 50 mil.
Com a proposta, a funcionária teria dias antes conseguido fazer com que Andreia assinasse os papeis. No entanto, a pecuarista acabou rasgando os documentos depois.
Andreia e a irmã eram investigadas pela Polícia Federal por contrabando de joias do exterior, além de tráfico de drogas. A família, envolvendo também a mãe das irmãs Aquino, tinha brigas judiciais por questões de herança, compra e venda de gado em valores que chegavam aos R$ 8 milhões.
O Midiamax apurou que as irmãs eram apontadas pela Polícia Federal como distribuidoras de drogas em um outro condomínio de luxo em Campo Grande. O cunhado de Andreia também era investigado. Há ainda a informação de que a família teria tentado assassinar um traficante para roubarem R$ 600 mil.
Ameaçada e injuriada
Em outubro de 2021, Andreia procurou a Polícia Civil para relatar que foi vítima de ameaças por um desconhecido. Ela recebeu mensagens de número desconhecido, pelo WhatsApp, exigindo R$ 40 mil pelo silêncio do suspeito. Caso contrário, o filho da vítima receberia fotos comprometedoras de Andreia.
Na ameaça, o autor dizia que a vítima tinha um prazo de meia hora para fazer a transferência do valor, ou as fotos seriam enviadas. A vítima não soube dizer na época se o autor do crime era um homem ou mulher.
Assassinato de pecuarista
Junto com a filha e o cunhado, a funcionária teria arquitetado o plano do falso roubo chamando o cunhado para executar o plano. O trio teria se encontrado em uma pastelaria, no Tiradentes, para acertar detalhes do plano, três dias antes. Mãe e filha ainda teriam ido até uma loja para comprar um simulacro de arma de fogo e um boné.
No dia do crime, as duas funcionárias foram até ao supermercado deixando o carro sem travar, para que o cunhado entrasse e fosse com elas até o condomínio. Ainda no mercado o cartão delas não teria passado pela compra de R$ 700 e Andreia, então, teria feito um PIX no valor de R$ 1 mil.
Quando chegaram ao condomínio, o homem desceu do carro com a sobrinha, enquanto a funcionária permaneceu no veículo, para ‘dar fuga’. Ela chegou a dizer em depoimento que pensou em desistir do crime, mas que o cunhado insistia. Ele ainda teria dito que, ao invés de exigir R$ 50 mil de Andreia, pediria R$ 80 mil, para que, caso fossem pegos, ‘o crime valesse a pena’.
Andreia estava na sala quando os autores entraram. O homem a agrediu, tampou a boca da vítima com um pano e a esganava. Ela acabou desfalecendo e, após perceber a demora a funcionária entrou na casa, encontrando Andreia já desacordada. Os suspeitos então levaram a vítima para o andar de cima.
A pecuarista foi colocada em um quarto, na cama, e a funcionária chegou a jogar água para ver se ela acordava. Os suspeitos fugiram e mãe e filha ainda mentiram sobre o sequestro.
O que as funcionárias disseram para a polícia
Assim que as equipes policiais chegaram no condomínio, as funcionárias disseram que tinham sido sequestradas no supermercado e obrigadas a levarem dois bandidos até a casa da vítima. Mas, foi descoberto pela investigação que as duas funcionárias teriam chamado o cunhado de 23 anos de uma delas para participar do falso roubo.
O trio pretendia obter uma importância aproximada de R$ 20 mil que deveria ser exigida da vítima mediante transferência bancária PIX no momento do assalto. Sobre outra investigação tocada pela Polícia Civil que tinha Andreia como autora, em relação a tentar mantar o ex-marido, o delegado Francis Flávio Tadano Freire, da Derf, confirma que existe a apuração, mas que não há relação com o crime desta quinta-feira (28).
Ainda segundo a polícia, a pecuarista tinha relação de anos com as funcionárias. Ela seria, inclusive, madrinha de um dos filhos das mulheres. As duas devem passar por audiência de custódia somente no sábado (30).
Brasiguaionews via midiamax