Morte de Bento XVI: o que acontece quando morre um papa emérito?

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Bento XVI pediu a sua aposentadoria em 2013, dando lugar ao papa Francisco. Foto: CELSO JUNIOR/AE © Fornecido por Estadã
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Vaticano já detalhou os rituais e procedimentos a serem seguidos quando um papa morre, mas não publicou tais regras para um papa emérito. Por isso, há muitas perguntas sobre o que será feito com a morte de Bento XVI.

A resposta é: não há uma resposta específica. Pelo menos nenhuma que o Vaticano tenha anunciado com antecedência. A única coisa certa é que o ritual mais importante após a morte de um papa – um conclave para eleger um novo pontífice – não se aplica neste caso.

O papa Francisco soou o alarme sobre a saúde de Bento XVI quando pediu, durante sua audiência geral semanal na quarta-feira, 28, uma oração especial por seu antecessor, dizendo que o papa emérito estava “muito doente”. Mais tarde, Francisco visitou Bento em sua casa na Cidade do Vaticano.

Bento XVI morreu neste sábado, 31, aos 95 anos. Nos últimos dias, o Vaticano já havia informado que o pontífice emérito estava com a saúde frágil, por causa da idade avançada, e o papa Francisco pediu orações por ele. Francisco celebrará o funeral do papa emérito na quinta-feira, 5, na Praça de São Pedro.

Funeral de papa emérito

A indicação da maioria dos observadores da Igreja Católica é de que os rituais fúnebres de Bento XVI serão semelhantes aos de um bispo aposentado de Roma: um funeral na Basílica de São Pedro ou na praça. Mas, neste caso, a cerimônia seria presidida por Francisco e não pelo reitor do Colégio dos Cardeais. O enterro seria na gruta que fica sob a basílica.

“O funeral de um papa emérito é o funeral do bispo emérito de Roma”, disse o historiador da igreja Alberto Melloni, acrescentando que a situação não é totalmente sem precedentes, já que dioceses de todo o mundo já decidiram como homenagear adequadamente os bispos aposentados.

Os próprios ritos estão contidos no “Ritual Romano”, que estabelece como os ritos litúrgicos devem ser celebrados, com orações e leituras específicas.

Alguns ajustes são necessários, no entanto: como Bento XVI era um chefe de Estado, o funeral presumivelmente seria mais pomposo, com a presença de delegações oficiais de todo o mundo. Para dar-lhes tempo para chegar e honrar o antigo status de Bento XVI como papa, o corpo provavelmente permaneceria na basílica por alguns dias antes do funeral, como ocorreu com os papas anteriores.

Poucos podem esquecer as longas filas de peregrinos que fizeram filas por dias e noites para homenagear João Paulo II quando ele morreu em 2005.

Nove dias de ritos fúnebres

Uma coisa que distinguiria um funeral de Bento XVI ao de um papa reinante são os nove dias de ritos fúnebres antes do enterro, chamados de “novemdiales”, que presumivelmente não aconteceriam, disse Melloni. Mas uma tradição que seria mantida é a colocação no caixão do livro dos Evangelhos.

Quando Bento XVI anunciou sua aposentadoria, em 2013, abriu uma década de território pontifício desconhecido. Desde seu título, “papa emérito”, até sua decisão de manter a batina branca do papado, Bento XVI criou em grande parte um novo manual para abranger tanto um papa reinante quanto um papa aposentado.

Christopher Bellitto, professor de história da Kean University, em Nova Jersey, no Estados Unidos, disse que a novidade da notável decisão de Bento XVI provavelmente será transportada para o período póstumo. “As manchetes dirão ‘Um papa está enterrando outro’. Não é verdade”, disse Bellitto. “Para ser claro: Bento é o ex-papa.”

“Mas é uma visão extraordinária, já que não tivemos uma renúncia papal nos últimos 600 anos. Fala da continuidade da tradição papal na linhagem de São Pedro, mas também de um novo mundo onde as renúncias papais serão menos raras, talvez até comuns”, disse ele.

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